sábado, 23 de outubro de 2010

O dono da bola


1952. Meu pai tinha 12 anos. Menino franzino, mas corria como ninguém atrás de uma bola de futebol.

Entregador de pão e engraxate, começou a trabalhar muito cedo para ajudar a família. Desde os 8 anos de idade já levantava as quatro horas da manhã para entregar pão e leite para o Massao, sua padaria era a única no bairro. Depois dos estudos, Zezinho pegava sua caixinha com os apetrechos e ia para frente do Matarazzo engraxar os sapatos dos senhores que ali passavam.

A maior parte do que ganhava era entregue para o senhor Aparecido, meu avô. Alguns poucos trocados eram guardados dentro de uma latinha de graxa, sua poupança, que seria usada para trocar sua velha bola por uma novinha.

Era o jogo de despedida de Edinho, seu companheiro de peladas. Zezinho chega nesse dia todo orgulhoso com seu trofeu debaixo do braço: a bola do jogo. Edinho fez cinco. Zezinho fez quatro. A briga era grande entre os dois para saber qual o melhor da turma.

A mangueira da pracinha Sta. Filomena, como sempre, era atacada logo após o jogo. Depois da disputa pela bola em campo, a disputa para ver quem subia mais alto na árvore.

Zezinho não largava nem um minuto de sua bola. O tio Bira, que sempre estava junto nos jogos da turma, tinha uma richa particular com meu pai por causa da bola. Serginho, o Carlos, Rubinho e o Nêne queriam mesmo eram as mangas. Já Edinho era mais tranquilo, subia na árvore para ter uma visão melhor das senhoritas que passavam pela pracinha. (foto)

Esse foi o último jogo e corrida às mangas com o amigo. O dono da bola virou contador. Pratica uma pelada de vez em quando. Já Edinho, o Nascimento, ajudou o Brasil em 58 a conquistar sua primeira Copa do Mundo de Futebol.

*Hoje, 23 de Outubro de 2010, os dois garotos da história completam 70 anos, e esta é minha homenagem ao maior boleiro do Oeste Paulista, meu pai. Esse texto foi escrito no ano passado em sala de aula.

- UNOESTE/FACOPP, Língua Portuguesa, Professor Rogério do Amaral. (24/set/2009)